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O rim que me ensinou a viver – Por Luma Eccel

Há 3 anos e meio atrás, após parar na emergência com sintomas de gastroenterite, fiz alguns exames que detectaram que meus dois rins haviam parado totalmente de funcionar.

Começava aí uma trajetória que jamais imaginaria ter de enfrentar na vida, que incluía desde a aflição de não se ter o diagnóstico exato, até a árdua rotina das sessões de hemodiálise. Para mim, foi um período difícil, tinha 26 anos e recém estava dando início a minha vida profissional, e tive de abandonar inclusive uma bolsa de mestrado que havia conquistado.

Foi como se tivesse tirado férias da minha vida para me dedicar ao tratamento. Eram 3 dias por semana em que ficava ligada 4 horas à uma máquina que substituía a função dos meus rins, o que me deixava exausta o resto do dia. Precisava cuidar absolutamente tudo que ingeria, até mesmo a quantidade de líquidos, pois seu excesso podia trazer consequências perigosas ao organismo, e o verão, assim, se tornava insuportável.

Por esses motivos, em mais de uma ocasião me revoltei com o Universo, perguntando por que isso tinha de acontecer comigo. Mas, conforme o tempo foi passando, comecei a olhar as coisas por um outro ângulo, de forma a mudar a pergunta inicial para: “por que não comigo? O que me faz pensar ser tão especial a ponto desse tipo de coisa não acontecer comigo? ”. Ninguém é melhor que ninguém, e, portanto, ninguém está livre de um dia enfrentar esse tipo de problema, seja consigo mesmo ou com alguém próximo. Ter vivido isso me fez levantar algumas questões sobre o modo como eu queria conduzir minha vida dali em diante. E resolvi que não importava o que acontecesse, mas importava o que eu faria com tudo isso.

Assim continuei com o tratamento, e, após um tempo, descobri que a razão da minha perda de função renal foi uma síndrome rara de caráter crônica, chamada síndrome hemolítica urêmica atípica, desencadeada por uma bactéria. Mas, nesse momento, a lesão já tinha sido grande o bastante para conseguir reverter apenas com medicação e o transplante de rim se tornou inevitável.

Por uma opção pessoal, juntamente com as indicações médicas, comecei os exames para entrar na lista de doadores falecidos. Todo o tempo de espera até o transplante acontecer se resumiu em momentos de angústias, medos e incertezas. Mas tudo isso terminou no momento em que recebi a tão esperada ligação, de que existia alguém disponível, compatível, e disposto a me fornecer vida!

Hoje, acabo de completar um ano do transplante, e tenho motivos de sobra para comemorar por cada suspiro. A sensação que tenho é de estar vivendo com mais intensidade tudo o que não pude viver naqueles 2 anos e meio de hemodiálise, terminei o mestrado, iniciei uma pós-graduação, comecei a correr, voltei a nadar, ir à academia, shows, festas, gritar pelo meu time no estádio, desfrutar de um café da manhã, viajar, enfim…. Relembro sempre o quão frágil é viver, o quão importante são as coisas relativamente simples da nossa rotina, que muitas vezes fazemos automaticamente e não damos valor, como beber um gole de água.

Acredito que toda essa trajetória valeu a pena! Além de ser grata por todo esse aprendizado, conheci muitas pessoas com histórias de tocar o coração, dispostas a compartilhá-las. Sempre uso a Patrícia Fonseca de exemplo, pois desde que vi aquela menina transplantada de coração no programada do “Fantástico”, participando de olimpíadas e correndo maratonas foi uma fonte enorme de inspiração para mim, e, hoje, sou muito feliz em poder tê-la no meu núcleo de amigos.

Essa é a mensagem que quero deixar nesse depoimento, que as pessoas busquem conhecer outras histórias e pesquisem mais sobre doação de órgãos. Muitas pessoas que conviviam comigo não conheciam sobre o assunto, e depois que viram a dificuldade que é a espera, os desafios da rotina e suas limitações, passaram a se conscientizar mais.

Aproveitem a vida, mas tenham compaixão com aqueles que não podem fazer o mesmo, e informem suas famílias sobre o desejo de ser doador! Faça por alguém o que você gostaria que fizessem por você!

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