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O FÍGADO DE UM SENHOR DE 74 ANOS ME SALVOU! – Por Daniel Rodrigues

O corpo ferido pelas longas internações. Furos de agulhas, catéteres. O inchaço. Rins que já não querem funcionar. Diálises, uma pior que a outra. Perfurações para drenar o líquido do abdômen. O fígado doente ia matando o corpo.

A mente sem paz, confusa pela encefalopatia (Inflamação no cérebro). Dopada pelos remédios que me mantinham vivo.

Às vezes, falava sem pausa. A cabeça queria pensar tudo ao mesmo tempo. Noutras, inconsciência, loucuras como brigar, tentar fugir… depois a mente acalmava e não lembrava de nada.

A alma ainda lutava, ignorava as noites que ouvira serem a última, que era grave. Fingia não ver medo no olhar da esposa. O cheiro do pior rondando, com fome.

Parecia que corpo e alma se desligariam um do outro. Fim.

Naquele dia, acordei mal. A notícia da noite anterior que o fígado parara de vez caiu como uma bomba.

A morfina relaxava as dores do corpo, a mente ia aceitando.

A alma recusava-se a aceitar. Conseguia extrair força de uma mente triste num corpo fraco.

“Respire. O ar te garantiu mais alguns instantes vivo. Calma. Respire. Mantenha assim e venceremos esta noite. Não pense bobagem. Teus filhos, prometeu tomar um sorvete com eles, não? E tua esposa? Vai deixá-la na dor da viuvez? E aqueles que oram por ti?”

Eu era o primeiro da fila de transplantes. No auge da COVID, cidades fechadas. Muitas mortes, órgãos contaminados. Um fígado saudável era coisa rara.

Com o fígado morto, não eram dias, mas horas. Corpo e mente sem forças. A alma ainda via vida, pois que lutássemos por ela!

De manhã, uma enfermeira diz que havia um fígado e que já estava a caminho.

Esperança: Um senhor de 74 anos, 1,58m e um fígado saudável. É tudo que eu sei.

Uma família disse SIM à doação de órgãos salvando minha vida. Assim, o anjo se tornava herói.

Tudo isso me ajuda a ser uma pessoa melhor, espalhar amor. Um ano depois, não sou mais o mesmo e gosto de quem me tornei.

Dia desses, surgiu a pergunta: “Por que você não faz uma plástica nessa cicatriz?”
Não. Eu me orgulho dela.
Por que no final tudo vale a pena se a alma não é pequena.

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