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A espera como a “não espera” – Por João Campello

Quando você vai até uma agência bancária, precisa esperar  o atendimento. Assim como na farmácia, padaria, supermercado, nas lojas de departamento. Muitas vezes essa espera é estressante, mas cabe a nós seguirmos ali esperando ou voltarmos em um outro momento em que os estabelecimentos referidos estejam com menos movimento. Até para nascermos necessitamos esperar até nosso corpo se formar, quando crianças esperamos pela fase adulta e quando idosos, sonhamos voltar à adolescência. Mas existem momentos na vida em que a espera não é mais questão de escolha e sim necessidade, e mesmo assim cabe a nós escolhermos como iremos passar…

Chamo-me João Campello, para os Amigos mais próximos Junão, apelido que ganhei no período que trabalhei no PSF (Programa Saúde da Família). No ano de 2010 fui diagnosticado com Bronquiectasias, e começamos uma corrida contra o tempo, fui encaminhado para a equipe de transplante de pulmão da Santa Casa de Porto Alegre, e aí iniciou minha primeira espera, foram cinco meses ate a 1ª consulta. Passei a fazer uso de oxigênio terapia, os dias eram longos mas me cabia esperar. Eu sempre fui muito ativo e do nada me vi incapacitado e perdido. Depois de longa espera fui incluso na lista de transplantes e tive que me mudar da minha casa que fica na cidade de Rio Grande -RS para a capital do estado Porto Alegre-RS. Eu não sabia o que esperar, e foi aí que minha espera mudou…

Conheci pessoas que me ensinaram que a espera é um momento de conhecimento, dedicação e parcerias. Minha turma de fisioterapia era composta de 8 pessoas: Carlão Gremista, chegava com seu fiel escudeiro seu cilindro de O2 fantasiado sempre, para cada data comemorativa uma roupa, tinha um sorriso fácil e com um coração sem igual; Nelson com um olhar de boêmio e um sorriso malicioso, sempre com uma brincadeira, colorado daqueles; Carol linda Paulista, com um sorriso encantador e com um medo da esteira; Luciane Amiga, companheira de fala fácil com um coração gigante; Arthur, 10 anos e tímido, entrava quase mudo; Maristela, uma senhora professora, carioca, sempre muito elegante; e eu jovem do interior do Rio Grande do Sul.

Fui apresentado à espera por um órgão, à adaptação à nova casa, aos novos costumes e fui inserido em uma nova família tipo uma criança quando nasce. O sentido da palavra espera para mim mudou no dia 01 de fevereiro de 2014, quando entrei em lista. Nossos dias nunca foram iguais, nos dias em que alguém não estava bem os outros ajudavam, nos reuníamos para almoços, passeios em shoppings e praças, nos visitávamos. A vida nos coloca em cada situação muitas vezes para testar a nossa fé, minha espera se tornou menor pela minha fé em Deus e foi pela fé eu acabei percebendo que perdemos muito tempo reclamando. Então AMIGOS vamos dar o nosso melhor!!!  Quando cheguei para lista de transplante eu driblei a espera com a “não espera”! Muitos perguntavam, e aí? Eu respondia: “estou pronto”. Em nenhum momento vi como espera, vivi intensamente cada segundo, cada minuto, e cada dia e toda pessoa que esteve na mesma jornada assumiu ou ganhou um papel de destaque em minha vida. Nos unimos na alegria de uma dor da espera, passamos, confraternizamos e nos tornamos uma família. Até hoje temos contato e nos visitamos. Lutamos juntos e sorrimos a cada novo renascimento!!!

Permitam-se viver da melhor forma possível. A espera serve para sonharmos com dias melhores, traçar metas, criar objetivos. Antes de transplantar eu falei: “logo após o transplante volto às classes da faculdade, voltarei a treinar e respeitarei ao máximo o órgão recebido”. Hoje passados 23 meses do transplante estou no 2º ano do curso de fisioterapia, sou corredor de longa distância, pratico musculação 6x na semana, e fazendo tudo isso eu mostro às pessoas que um transplantado tem vida normal e que sim vivemos plenamente! Vivam e se permitam viver!!!

Abraço cordial!

Vivam com plenitude, só assim estarão respeitando o seu doador e sua família!

João Campello

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