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Era uma vez os transplantados… – Por Miriam Haidamus

 

Era uma vez os transplantados e a natação em águas abertas. Era uma vez uma equipe formada por cinco transplantados que se uniram para participar de uma competição de revezamento de natação em águas abertas, no mar.

Éramos três transplantados de medula óssea, uma de coração e um de fígado. Chamamos a equipe de “Atletas Transplantados”. A nossa prova era um revezamento 5×200 metros. Cada competidor nadaria 200 metros, saindo da praia em direção ao mar e voltando até a areia.

Eu ainda não tinha experimentado a emoção de nadar no mar em uma competição. Apesar de ter participado de provas de corrida de rua antes da leucemia e do transplante de medula óssea, aquilo era diferente.

Tudo era diferente. Eu estava diferente. Era minha primeira prova depois um ano e meio do transplante e após dois anos e meio de tratamento. Eu não sabia como meu corpo e minha mente reagiriam, mesmo tendo treinado e me preparado sob supervisão médica e de profissionais capacitados. Poucos dias antes da prova, uma de nossas atletas não poderia comparecer. E agora, como ficaríamos sem um competidor? Não seria dessa vez que eu iria estrear no mar?

Mas os deuses das águas estavam do nosso lado. Cheguei no local da competição, na ilha que de tão bela, chama-se Ilhabela, no litoral do Estado de São Paulo. O dia estava lindo, o sol veio brindar os competidores e a água do mar estava tão calma que chamava para um mergulho. Mesmo faltando uma atleta, pudemos participar do revezamento. Outro dos nossos transplantados nadou duas vezes e assim concluímos a prova.

Fui a segunda da equipe a entrar no mar. Eu podia sentir a adrenalina correndo pelo corpo. Eu estava tão feliz de estar ali que nem acreditava. Quando parti para o mar, fiz meu melhor. De volta na areia, a emoção tomou conta de mim. Caí em lágrimas, era como se tivesse ganhado o primeiro lugar.

Não, nossa equipe não ficou em primeiro lugar. Isso não importa, porque já somos vencedores. O maior prêmio que ganhei naquele dia foi poder sentir de novo a areia fofa da praia debaixo dos pés, o sol aquecendo a pele e a água do mar me abraçando como uma amiga de muitos anos.

Nós cinco fomos salvos por heróis que doaram um pedacinho de vida para que pudéssemos continuar nossa jornada. Através do esporte, podemos mostrar que a vida é para ser celebrada e cada dia é uma vitória. Sou atleta transplantada de medula óssea e agora quero também incentivar o esporte e mostrar que nós, transplantados, também podemos fazer coisas incríveis.

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