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Quando se está esperando… um Rim! – Por Luma Eccel

Confesso que nunca gostei de esperar: esperar uma carona, esperar um resultado de prova, esperar chegar o final de semana, esperar a comida ficar pronta…. Nesse mundo de imediatismo em que vivemos hoje, no qual enviamos uma mensagem à alguém e queremos receber a resposta quase que instantaneamente, se não já nos sentimos frustrados, perdemos a capacidade de esperar. Imagina então ter de conviver com a imprevisibilidade do tempo de espera por um doador compatível quando se precisa de um órgão? Para quem nunca foi fã do verbo esperar, essa foi uma situação desconcertante pela qual tive de lidar.

Após perder a função renal e entrar na hemodiálise, o exercício da paciência já era uma atividade que eu estava aprendendo a dominar, afinal, se você já precisou passar 4 horas sentado tentando mexer o mínimo possível do braço que estava puncionado para filtrar o sangue, sabe quanto custa passar cada minuto.

Mas, após entrar na fila em busca de um novo rim que substituísse os meus e a máquina, foi inevitável que a ansiedade tomasse conta de mim e eu passasse a ir atrás de outras histórias, principalmente na tentativa de prever o “tempo médio” de demora na fila, o que me deixava ainda mais angustiada. Naquele momento gostaria de ter tido alguém que pudesse me aconselhar, já que as ferramentas de busca da internet, muitas vezes, nos trazem respostas que não queríamos ler ou desfechos nem tão felizes como esperávamos. E esse texto é para isso. Talvez o que eu venha dizer aqui, não sirva inteiramente para todos que se encontram nessa situação, mas posso compartilhar o que me ajudou a enfrentar esse tempo incerto de espera, e inspirar cada um a descobrir o que é melhor para si.

Em primeiro lugar, saiba filtrar informações! Não acredite em tudo que lê, e, principalmente, não se compare com outros pacientes. Sem dúvida a aproximação com outras pessoas que estejam passando por problemas semelhantes é estimulante e o compartilhamento de experiências e informações pode agregar muito, mas cada um tem sua história, e é importante que você compreenda isso. Quando se trata de fila de espera nunca uma experiência será igual à outra: há os que são chamados em questão de dias ou meses, mas há aqueles que esperam por anos. Há os que passam por intercorrências no meio do caminho e precisam mudar todo o processo, assim como há aqueles que tudo corre da forma como tinha de ser. Sem esquecer daquelas doações que prometem e falham várias vezes, e é preciso voltar para casa com o sonho do renascimento abortado e continuar esperando. E há a sua. Vi muitas pessoas desistirem no caminho por medo, desencorajadas após ouvirem histórias desestimuladoras, portanto: filtre o que vai servir para você, esqueça o resto, e acredite na sua história.

E então, siga acreditando. Em quem acreditar? Não importa. Acredite em Deus, acredite nos médicos, acredite no universo, acredite nas metas que você quer conquistar, acredite em você. Coloque fé! Ter fé nada mais é que ter absoluta confiança depositada em algo. Siga confiante de que seu momento também vai chegar.

Crie seu ambiente agradável, mantenha sua mente ocupada. Nem é preciso fazer grandes atividades, às vezes experimentar uma receita nova e vê-la pronta já era algo que fazia me sentir útil. A companhia de amigos e da família também sempre ajuda a trazer conforto. Voltei a estudar e mantive uma rotina o mais perto do normal possível, dentro das limitações que a hemodiálise impõe, o que fez com que eu esquecesse um pouco do tempo, e utilizasse ele a meu favor. Aproveite o tempo para cuidar de você, incluindo exercícios físicos na rotina, procurando ter uma alimentação mais saudável, e trabalhando sua mente… lembre-se que você terá uma cirurgia pela frente, e tudo que puder fazer para que a recuperação seja a melhor e mais breve possível será válido! O sofrimento tem de nos construir, e não destruir! A gente amadurece com os desafios, e não está em qualquer livro de autoajuda por acaso que ser maduro exige habilidade para se reinventar no caos e paciência para escrever os capítulos mais difíceis da vida nos nossos dias mais tristes.

Quando as coisas parecerem difíceis demais e você se sentir cansado, pense que tudo isso é passageiro, e repita esse pensamento como um mantra. Lembro de ter escrito uma lista de coisas que eu gostaria de fazer pós-transplante. E me dei conta de que a maioria daqueles planos eram coisas pequenas, mas que toda vez que eu lia me traziam força para continuar esperando e ficar animada, pois sabia que valeria a pena! Até hoje quando ouso reclamar de algo, volto e releio a listinha…

E então, geralmente em um momento mais inesperado, chega a aguardada ligação, e do lado de cá sentimos a descarga de adrenalina percorrendo o corpo como quando passamos por um susto muito grande, e a sensação de que tudo que encaramos realmente valeu a pena toma conta! Depois disso, parece que todas as dificuldades se transformam em aprendizados, e nos sentimos prontos para essa nova vida. E junto dela, recebemos uma cicatriz, que a partir de então passa a ter um motivo mais que especial para estar ali: não esquecer jamais de todo aprendizado que construímos até aqui.

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