Meu nome é Camila, moro há mais de 15 anos em Dublin, na Irlanda, sou casada com um Irlandês e tenho 3 filhos. Uma família linda! Em 2017, descobri que estava grávida de gêmeos. Durante toda a minha gravidez, tive muitas complicações. Foi muito difícil! Em 2018, dei à luz a dois bebês lindos e saudáveis, Joseph e Alana.
Exatamente 3 dias depois, vi a minha vida por um fio e virar de ponta cabeça: tive insuficiência cardíaca e fui diagnosticada com uma doença extremamente rara chamada Cardiomiopatia Pós-parto. Devido a minha baixa estatura o meu coração teve que trabalhar demais para conseguir gestar 2 bebês durante 9 meses. O lado esquerdo do meu coração ficou completamente deteriorado. Fui imediatamente transferida para a UTI do hospital do coração e colocada como prioridade na fila de transplante de coração.
Os médicos pediram para a minha família do Brasil vir para a Irlanda, todos achavam que eu morreria. Eu estava muito feliz durante a gravidez, tinha uma família linda, um bom emprego e um marido maravilhoso. E de repente, do dia para noite, a minha vida desmoronou-se. Quando percebi que ia morrer, solicitei aos médicos para eu ver a minha menina e os gêmeos que eu havia acabado de dar à luz. Depois de insistir muito, eles aceitaram, providenciaram uma ambulância para levar-me e deram-me somente uma hora para eu ver meus filhos. Ao vê-los, emocionei-me muito e voltei para o hospital com uma força enorme para lutar e não desistir da vida. Eu repetia 100 vezes ao dia para mim mesma: “Não vou morrer, tenho uma missão que é cuidar dos meus filhos e da minha família”.
Depois de 2 dias, os médicos disseram que a fração de ejeção (capacidade de bombeamento de sangue) do meu coração estava aumentando, e eu estava finalmente respondendo ao tratamento e começando a dar sinais de melhora. Fui retirada da lista de transplante cardíaco. Um dos meus maiores medos era que não fosse encontrado um doador compatível e não sobreviver ao transplante caso precisasse.
Somente quem aguarda na fila por um órgão sente na pele o quanto é doloroso saber que há muito poucos doadores. Mas foi o amor por meus filhos e minha família que salvou a minha vida.
Após 4 semanas na UTI, meu coração começou, aos poucos, voltar ao normal e fui mandada para a casa. Levei 1 ano para recuperar-me e começar a ter uma vida normal. Hoje estou completamente curada, estou no grupo mundial de sobreviventes de Cardiomiopatia Pós-parto (a taxa de mortalidade é bem alta) e muito feliz! Tomo vários medicamentos por dia para prevenir uma recaída, porém, aprendi a conviver com isso.
Não devemos deixar nossos sonhos para amanhã. A vida é muito curta e podemos partir em questão de minutos. Por mais difícil que seja o momento pelo qual estamos passando, devemos ser sempre positivos e acreditarmos em nós, no poder da nossa mente e da nossa força. Não deixemos para amanhã o que temos guardado em nosso coração.
Somos muito mais fortes do que podemos imaginar.