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ME DEIXEM VIVER! – Por Lilian Alencar

Já estou há 2 meses internada na fila para transplante. Não vejo o céu, não toco em uma árvore. Nem me lembro das minhas roupas. Só visto o pijama do hospital.

Dependo de um remédio 24h por dia na minha veia para que meu coração bata razoavelmente bem. Não posso ir pra casa.

O meu rim já está bem preguiçoso. O meu fígado enorme, parece uma bola de basquete. Meus pulmões estão hipertensos.

O coração que eu nasci estava tentando me matar.

Ontem a noite passei muito mal. Minha falta de ar me acordou. Minha saturação foi a 74%. Pensei que fossem me entubar. Mas a máscara de O2 me salvou mais uma vez.

Na rádio-corredor do hospital ouvimos as informações..”teve um caso ontem, mas a família não quis doar”…”teve uma família que assinou os papéis, mas de última hora, não deixou…”

Meu Deus! Se as famílias não começarem a autorizar a captação de órgãos eu vou morrer aqui! O transplante é minha única chance! Eu tenho uma chance! Mas preciso que alguém que não me conheça me salve!

Mais um mês se passa … sigo piorando….ao todo já foram 21 paradas cardíacas. Tenho medo de dormir e não acordar mais.

Sigo esperando que alguma família faça o que é certo, que transforme aquele momento em renascimento para dezenas de pessoas como eu.

Mas, como a família vai saber o que fazer, se as pessoas não deixam avisado em casa que elas querem que a família autorize a doação de órgãos caso tenha oportunidade?As famílias precisam falar sobre isso em casa!

A falta de ar é imensa, todos os dias levo muitas furadas, todos os dias tenho medo de outra parada cardíaca, todos os dias fecho os olhos orando a Deus para que me permita amanhecer viva.

Tenho tanta esperança! Tenho tanto medo!

Mas eu estou aqui, tenho que acreditar! Alguém vai conversar com a família! A família vai doar! Eu vou sobreviver! Eu não quero acreditar no mundo sem mim! Me deixem ficar aqui!
Me deixem viver!

Texto escrito durante a internação da Lilian.
A foto é depois de ter conseguido o coração que ela tanto precisava. Sim, uma família deixou ela viver! Hoje ela faz 5 anos de transplante.

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