Sou Doador » Blog » Especial Dia 06 de Janeiro, Dia da Gratidão- Por Lili Alencar

Especial Dia 06 de Janeiro, Dia da Gratidão- Por Lili Alencar

Na minha cidade, tem uma lanchonete de sucos e sanduíches onde tudo é simplesmente delicioso! Toda vez que eu ia ao centro, passava lá para comer hambúrgueres! Para beber eu pedia aqueles minirrefrigerantes e mesmo assim evitava tomar tudo. Como era portadora de uma doença cardíaca grave, eu tinha uma cota de líquidos para beber por dia e caso ultrapassasse, corria o risco desse líquido excedente ir para o pulmão. Às vezes, eu fazia a extravagância de pedir um suco. Sim, extravagância, pois o menor suco tinha 500 ml, custava caro e eu bebia no máximo 200ml dele, mesmo estando com sede e o suco sendo delicioso.

Depois que a família do meu doador doou-me o coração, voltei a minha cidade curada. Fui ao balcão e pedi um suco de tamarindo com morango e laranja. Tirei algumas selfies com o suco e bebi tudo! Ninguém deve ter entendido muito bem, mas para mim era um momento de vitória. E por isso fui GRATA. Porém você não precisa passar por uma doença grave para ser GRATO por poder beber o que quiser, entende?

Ainda na minha cidade, na fase terminal da insuficiência cardíaca, eu estava no centro resolvendo algumas coisas e bateu-me muita falta de ar. Fui andando e parando para descansar e respirar apoiando às vezes a mão nas vitrines. Para disfarçar, fingia que estava avaliando as roupas e produtos por onde eu parava. Eu tinha vergonha. Às vezes me sentia um pouco humilhada por estar naquela situação. Tinha também um pouco de inveja das pessoas indo e vindo sem a menor dificuldade de respirar. E eu queria somente poder chegar até meu carro.

Ao voltar pela primeira vez à minha cidade depois do meu doador salvar a minha vida através de um transplante de coração, fui bater perna no centro. Eu ria pela rua, e era como se as pessoas pelas quais eu passava soubessem, pelo meu riso, que eu tinha sido SALVA! Eu tinha sido TRANSPLANTADA!

Fiz questão de voltar a pé para casa. Rindo. Dessa vez, não existia mais humilhação, inveja ou vergonha. E muito menos a falta de ar! Só existia GRATIDÃO. Porque agora as coisas eram do jeito que sempre tinham de ter sido! 🙂

Mas você não precisa passar por tudo isso para ser GRATO por poder ir e vir para qualquer lugar sem passar nem um “tiquinho” mal! Compreende?

Na verdade, toda vez que reclamamos muito de alguma coisa temos de fazer o exercício de pensar: ok, isso me foi retirado. E tudo aquilo que me foi poupado?

E o transplante passa bem no centro do tema GRATIDÃO: Quando eu partir, quero que doem todos os meus órgãos porque sou muito grata à vida maravilhosa que tenho, e quero que alguém tenha a oportunidade de ter essa vida maravilhosa também!

A minha família já sabe que quero ser uma doadora. E a sua?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *