Desde que transplantei, senti a necessidade de atuar na divulgação da doação de órgãos. Queria que outras pessoas experimentassem o renascimento para uma nova vida. Uma vida que nos libertasse das limitações e das dores que estávamos ligados e nos apresentasse a novos desafios e a oportunidades de sermos melhores para nós e para os outros.
Quando soube da existência dos Jogos Mundiais para Transplantados, vi a oportunidade que precisava e com a qual me identificava. Eu já era profissional da Educação Física e me exercitava desde criança. Foi assim que fiz do esporte a minha ferramenta para lutar pela causa e divulgar a doação de órgãos.
Nosso corpo reflete nossa história. O meu, por exemplo, é carregado de cicatrizes e lesões, é encharcado de medicamentos, imerso em efeitos colaterais, já sofreu algumas mudanças esperadas com a idade e continua em constante transformação. Isso tudo me faz ser muito grata a este companheiro de batalha.
O mais importante para mim é como utilizo o que esta matéria tem para me oferecer em benefícios dos meus propósitos. Se tenho um só pulmão, uma só mama, ligamento rompido, tornozelo quebrado…esse não é o foco. O foco é: o que eu posso fazer a partir da minha adaptação para ajudar a mim e ao próximo?
Quando meu corpo sofreu, definhou e não pôde mais me acompanhar, eu o respeitei. Sabia que poderia contar com ele após o transplante de pulmão. Minha relação com ele sempre foi esta: respeito. Afinal de contas, moro nele!! O que ele pode me oferecer nesse momento?
Em um mundo cada vez mais inclusivo, devemos nos desacorrentar de padrões, rótulos e tentativas de corresponder ao que esperam de nós. Podemos e devemos abrir espaços e oportunidades. A melhor maneira dos transplantados divulgarem a causa é: seja você! Mostre ao mundo do que você é capaz! Ele vai acreditar!
Fiz este texto para apoiar e encorajar uma transplantada que tem o sonho de ser fisiculturista. Eu nunca fui e não pretendo ser, mas me sinto realizada em cada transplantado que realiza um sonho!