Quando me deparei com a doença renal crônica, sabia que iria precisar de um doador compatível para um transplante renal. No entanto, não sabia que antes disso, necessitaria contar com outro tipo de doação: a de sangue!
No meu caso, desenvolvi uma doença autoimune chamada síndrome hemolítica urêmica atípica, que além de fazer eu perder a função renal, destruía meus glóbulos vermelhos e minhas plaquetas, contribuindo para que eu passasse por diversas anemias agudas enquanto aguardava na fila do transplante.
Nos processos de anemia, eu perdia as forças de fazer as coisas simples do dia a dia, pentear os cabelos e escovar os dentes, por exemplo, requeriam de mim uma energia enorme e que parecia não existir! Nesses dias, eu ia fragilizada para a sessão de hemodiálise torcendo para que “minha bolsinha” – como havíamos apelidado as bolsas de sangue na clínica – estivesse lá! Ao final da sessão, inseriam a bolsa de sangue e o bem-estar era instantâneo. E eu voltava a me sentir “eu mesma”!
Ao todo foram cerca de 25 transfusões de sangue. Fechava os olhos e pensava que aquele calor que eu começava a sentir era o amor de tantas pessoas circulando nas minhas veias!
Como eram incríveis essas pessoas que dispunham do seu tempo livre para doar um pouco de si, mesmo que fosse para desconhecidos. Esse POUCO de si, na realidade, significava TUDI para quem recebia!
Obrigada doadores, por me fazerem forte e saudável para superar essas pedrinhas no caminho. Obrigada doadores por inundarem de luz o que antes era vivido no escuro. Obrigada doadores, mais uma vez, por vocês existirem e serem a esperança na vida (e de vida) de tantos pacientes!
Luma Eccel é transplantada renal há 4 anos, Advogada, Mestre em Direito e Professora de Direito Penal.